Entre 20 e 24 de Setembro a UAlg recebe a reunião da Comissão Internacional de Microflora do Paleozóico (CIMP Faro’09), um evento que atrai ao Algarve um grupo de 35 especialistas de renome mundial, oriundos de 12 países, que vão discutir a evolução das floras e microplâncton primitivos em diferentes partes do mundo, bem como as alterações climáticas globais ocorridas no passado. Estes palinólogos – ou geólogos que fazem a identificação de microfósseis para saber a idade das rochas e reconstituir ambientes antigos – vão debruçar-se concretamente sobre a Era Paleozóica Superior, que no Algarve deixou vestígios únicos na faixa litoral entre Aljezur e Vila do Bispo. Nos dias 21 e 22 de Setembro o CIMP Faro’09 está a decorrer no Anfiteatro Teresa Júdice Gamito, no Campus de Gambelas da UAlg.
Portugal já esteve de pernas para o ar e o Algarve já esteve mais perto do Norte da Europa do que do Norte de África. Isso aconteceu entre os 416 e 299 milhões de anos atrás, nos Períodos Devónico e Carbonífero da Era Paleozóica, quando a posição das massas continentais no grande continente Pangea eram bem diferentes das actuais. Sabemos isso hoje porque os microfósseis de plantas e algas cá estão para nos contar: as provas encontram-se encerradas nas rochas sedimentares na faixa entre Vila do Bispo e Aljezur, onde é possível observar afloramentos costeiros únicos no país, ricos em microfósseis, que a UAlg em colaboração com o Laboratório Nacional de Energia e Geologia tem estudado ao longo dos último anos.
“Embora o Algarve seja um território pequeno, é extremamente rico do ponto de vista geológico, sobretudo em rochas do Devónico e do Carbonífero, que nos permitem viajar no tempo e descobrir muita coisa acerca da história da vida da Terra”, explica o Prof. Paulo Fernandes, docente e investigador na UAlg na área da palinologia, ramo da geologia que lida com a identificação de microfósseis de plantas (esporos e pólenes) e algas (microplâncton).
Paulo Fernandes é o responsável pela organização da reunião CIMP Faro’09, que não acontece no Algarve por acaso: “Estes peritos querem muito fazer uma visita científica à costa algarvia entre Aljezur e Vila do Bispo, concretamente entre as praias da Carrapateira e de Murração, onde o tipo de esporos que se encontram registam muito bem, quase sem quebras, a evolução de como era a flora terrestre nessa altura.” Estes registos estão tão bem conservados que, inclusive, “mostram uma extinção em massa global que eliminou um grande número de espécies”, refere o especialista.
Peritos do Irão, de Omã, da Arábia Saudita, dos Estados Unidos, da Alemanha, Espanha, França, República Checa, Reino Unido, Irlanda, Polónia e da Argélia vão assim deslocar-se, nos dias 23 e 24 de Setembro, a estes locais da costa oeste algarvia, para compararem o que lá existe com os registos encontrados em outras partes do mundo, especialmente com os fósseis “europeus” da Irlanda e do Reino Unido, mas também com os registos do Canadá e da costa oeste dos EUA, que “têm muitas afinidades com as rochas e as microfloras do noroeste europeu”.
Segundo Paulo Fernandes, o grande interesse geológico da região onde actualmente se situa o Algarve reside no facto de este ser um território de fronteira do passado em termos geológicos, na medida em que “apesar de já ter estado muito próximo do Norte da Europa, nunca deixou de ter características próximas do Norte de África, o que o torna único”.
A palinologia, além de tratar da identificação de microfósseis de plantas e algas, permitindo datar rochas e reconstituir ambientes passados, pode ter muitas outras utilizações. “As plantas não se mexem e são muito sensíveis aos sítios onde vivem. São por isso capazes de nos dizer como eram ou como são as condições ambientais em que vivem ou viveram, o que pode ter várias utilizações, que cruzam campos como a ciência forense, a medicina ou a engenharia florestal, por exemplo”, refere Paulo Fernandes.
Outra utilização da palinologia prende-se com a pesquisa de hidrocarbonetos. “O petróleo vem desta matéria orgânica, por isso quem quer encontrar petróleo tem de estudar os microfósseis para saber, por exemplo, onde estão as rochas que já produziram hidrocarbonetos e onde se encontram as rochas que os armazenam em profundidade”, sublinha o investigador da UAlg, acrescentando que alguns participantes na reunião CIMP Faro’09 são palinólogos de companhias petrolíferas do Médio Oriente.
A reunião CIMP Faro’09 decorre no âmbito do Ano Internacional do Planeta Terra – cuja cerimónia de encerramento mundial vai ter lugar em Lisboa, no próximo mês de Novembro – e integra o programa de comemorações dos 30 anos da UAlg.
Mais informações e programa disponíveis em
http://cima.ualg.pt/eventos/cimpfaro09/home.html
Contacto:
Prof. Paulo Fernandes | pfernandes@ualg.pt
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